O CNO da ATEP foi convidado a estar presente na palestra "Por que é que não é normal ser diferente?" realizada pela Escola Profisssional de Torres Novas a propósito do Dia Internacional para a Tolerância, que se comemorou no dia 16 de Novembro.
O CNO fez-se representar pela sua Coordenadora que deixou algumas ideias sobre as Novas Oportunidades e a tolerância.
Aqui fica a sua comunicação.
Em Janeiro de 2008 a EPTN foi convidada pela ANQ - Agência Nacional para a Qualificação para se candidatar a um Centro Novas Oportunidades. Sem saber muito bem o que iria vir daí, a EPTN aceitou o desafio e em Julho o CNO abriu as suas portas.
Ora, então o que é um CNO?
O CNO é um serviço de apoio para a identificação da oferta formativa mais adequada para quem queira melhorar as suas qualificações. Para tal, dispõe de técnicos qualificados que analisam o perfil do adulto (motivações, necessidades, expectativas, etc.) e encaminham o adulto para a resposta de qualificação mais adequada.
Uma dessas respostas é o processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências. O RVCC consiste essencialmente na demonstração de competências adquiridas ao longo da vida e que vão ao encontro daquilo que o Ministério da Educação identificou como as competências necessárias para cada nível de ensino.
E o que tem o trabalho do CNO que ver com a tolerância?
Estamos a falar de população adulta com baixa escolaridade. Logo por aí poderíamos falar de discriminação. São muitos os adultos que nos procuram com histórias de discriminação e injustiça:
• Pessoas que deixaram de estudar com 11 anos e que foram obrigadas a trabalhar para ajudar no sustento da família
• Mulheres que não puderam estudar pois não era preciso e faziam falta em casa para tomar conta dos irmãos
• Pessoas traumatizadas com a Escola e com os professores, pois todos os dias recebiam a sua dose de cana da índia, reguadas e etc.
• Pessoas que mentiram sobre as habilitações para se puderem candidatar a um emprego
• Pessoas que toda a vida trabalharam numa determinada profissão mas que não têm um certificado de qualificação profissional
É por isso que este programa se chama Novas Oportunidades: dar oportunidade a quem não teve condições de continuar a estudar ou não pôde evoluir em termos profissionais.
Ora falemos então de intolerância. Há quem não compreenda o funcionamento das Novas Oportunidades. O programa é acusado de facilitismo e de que as pessoas não aprendem. Nada mais errado. Como em tantos outros casos o desconhecimento e ignorância fazem com que muitas vezes se diga que as Novas Oportunidades são uma coisa que na realidade não o são. Se alguém não aprendeu é porque já tinha aprendido, se para alguém foi fácil é porque tinha as competências necessárias. Na internet encontra-se facilmente fóruns e blogs com críticas às novas oportunidades, apelidadas de injustas. Mas não terá sido a vida destas pessoas cheia de injustiças?
A intolerância é não aceitar algo diferente dos nossos padrões e com as novas oportunidades passa-se um pouco isso: eu não aceito que alguém possa terminar o 6º, 9º ou 12º ano de uma forma diferente da minha.
Passemos novamente à realidade dos CNOs.
Valorizar aquilo que cada um possui à partida. Uma forma de tolerância é a validação de competências adquiridas em contextos de vida completamente distintos. Isto é, à partida todas as histórias de vida têm aprendizagens, desde a mulher que viveu 20 anos com o marido que lhe batia e finalmente ganhou coragem para pedir o divórcio, a outra que foi deserdada porque a família não gostava do namorado, uma outra que descobriu na Fé e na Igreja a forma correcta de viver, a irmã que sofreu com a leucemia do irmão, o ex-camionista internacional que fala 7 línguas estrangeiras ou o empregado de armazém com 20 anos de experiência e agora está desempregado. São muitos os exemplos que poderiam ser apresentados pois cada pessoa que passa pelo CNO tem particularidades completamente diferentes.
O Bicho da matemática. Considerada por muitos como a grande dor de cabeça quando andavam na Escola, a matemática está presente na vida de todos: os portugueses passam a vida a fazer contas à vida. O receio vai-se perdendo à medida que se percebe que a matemática tem utilizações reais: proporções, percentagens, medidas e até o Teorema de Pitágoras fazem sentido na vida do dia-a-dia e desmitificam a imagem criada na Escola.
Combate à infoexclusão. As competências de Tecnologias de Informação e Comunicação são essenciais para conseguirem a certificação. No ensino básico as TIC são uma área de competência-chave autónoma e onde as pessoas deverão demonstrar que conseguem utilizar o Word, o Excel, o Powerpoint e a Internet, para além de outros equipamentos tecnológicos com o telemóvel, os multibancos ou os electrodomésticos. Esta é a área preferida da maioria dos candidatos pois um novo mundo se abre. Coisas que achavam que só os filhos poderiam fazer estão agora ao alcance, facilitando a vida. Vou dar-vos alguns exemplos: falar com a família que está em França através do Messenger ou do Skipe, ou até mandar e-mails com os trabalhos (primeiro com ajuda e ainda a partir do e-mail dos filhos, mais tarde já com e-mail próprio e sem ajuda).
As TIC abrem um novo mundo que até então parecia muito distante e são muitos os que, mesmo depois de certificados, pretendem aprofundar os seus conhecimentos inscrevendo-se em cursos de informática que a escola desenvolve gratuitamente em horário pós-laboral.
As línguas estrangeiras. Considerado obrigatório no ensino secundário, são muitos os adultos que fazem cursos de línguas onde aprendem o essencial para uma conversação nessa língua. Isto representa o voltar à escola mas já com um estatuto diferente e sem receio das reguadas. Sendo o Inglês a língua mais procurada, é frequente o “Hello teacher!” quando se chega à aula.
Validar competências de Cidadania. Quer para o ensino básico quer para o secundário, uma competência essencial para serem certificados é a tolerância na divergência com outros (colegas, família, etc) mas também no contacto com outras culturas. Ninguém pode ser certificado sem mostrar como tem e aplica a tolerância.
Antes de concluir não posso deixar de salientar um estudo que revela que o aumento da qualificação dos pais tem um impacto positivo na escolarização dos filhos, quer pelo exemplo de esforço e dedicação na educação que estão a dar aos filhos, quer pela percepção, por parte dos pais, da necessidade de apoio na aprendizagem dos filhos.
Em conclusão, elevar as qualificações representa um reforço da auto-estima “Eu fui capaz!” e esta é essencial como defesa à intolerância. As pessoas com baixas qualificações lutaram toda a vida contra preconceitos, contra a sua própria vergonha, contra as portas e oportunidades que se vão fechando. A iniciativa Novas Oportunidades pretende lutar contra isso, dando lugar a cada pessoa para demonstrar o que aprendeu, respeitando a sua identidade. É isto que representa a noção de tolerância.
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